Participar de
uma entidade, qualquer que seja ela, traz-nos benefícios e, ao mesmo tempo,
desilusões. A Sociedade de São Vicente de Paulo não foge a essa regra, por se
tratar de uma associação formada por homens e mulheres que, por natureza, são
imperfeitos e pecadores. Algumas vezes temos desentendimentos com pessoas
queridas por manifestarmos pontos de vista divergentes que nem sempre são bem
interpretados. Isso é normal, é humano, é compreensível.
Santo Agostinho tinha uma frase que vale a
pena ser repetida nos dias de hoje: “Temos que ter unidade nas coisas
essenciais, liberdade nas não essenciais, mas a caridade em todas”. Ou seja,
somos todos vicentinos, independente se uma decisão tomada possa nos desagradar
ou contrariar. O que nos mantém ativos na SSVP é algo muito superior: a missão
de servir a Cristo pela prática da caridade. Portanto, a caridade (leia-se
“respeito”, “aceitação” e “perdão”) deve prevalecer em nossos diálogos e
interações.
Se ingressamos na Sociedade para atender a
um pedido de um familiar, fizemos errado. Se estamos na SSVP com objetivos
políticos, estamos também no lugar errado. Se procuramos o movimento vicentino
para gozar de prestígio e status perante a comunidade paroquial, cometemos
outro engano. Fazemos parte da Sociedade porque acreditamos que é possível
fazer um mundo melhor, por meio da redução das desigualdades sociais e na
pregação do Evangelho a todas as criaturas. Isso sim é que nos move e deve
nortear nossas ações vicentinas.
E nessa missão, temos que superar todas as
adversidades e contra-sensos. Não podemos deixar que nossa chama vicentina se
apague lentamente a cada revés por que passamos. São Paulo tinha uma noção
muito abrangente sobre os reveses que sofremos ao longo de nossa vida, ao afirmar
que o que vale é a “guerra” como um todo, e não os eventuais fracassos das
“batalhas” pontuais: “Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé”
(II Timóteo 4, 7).
É evidente que São Paulo referia-se aos
aspectos espirituais enquanto essa crônica está relacionada ao cotidiano
prático dos vicentinos. Temos que agir como São Paulo: se nossas idéias não
forem acolhidas pela maioria, precisamos ter a humildade de aceitar a opinião
alheia e fazê-la nossa. Aliás, o desapego ao próprio parecer é uma das
condições essenciais para que o confrade ou a consócia possa desempenhar bem
sua missão vicentina.
Contudo, ser humilde e desapegar-se do
nosso próprio parecer não significa que temos que nos omitir ante os temas que
exigem maior reflexão e análise no seio vicentino. Emita sempre, com caridade e
diplomacia, seus pensamentos; diga, a cada instante, suas impressões a respeito
da condução dos trabalhos da Conferência ou do Conselho; contribua,
freqüentemente, com idéias que podem evitar que deliberações sejam tomadas
equivocadamente no futuro. Enfim, aponte as eventuais falhas, ajude a consertar
o que precisa ser ajustado e não tenha vergonha de pedir perdão, caso a
discussão se inflame e produza resultados indesejados!
Por isso, amados confrades e consócias e
demais membros da maravilhosa Família Vicentina, não deixem que a chama
vicentina que está em seus corações seja apagada por qualquer motivo. Cristo,
Maria, São Vicente e Ozanam não vão permitir que isso ocorra, recobrindo-nos de
forças adicionais que façam com que consigamos “carregar a cruz” até o final,
sem tropeços e atropelos. Não nos esqueçamos do velho ditado indiano que diz:
“Ao aliviarmos o sofrimento de alguém, estamos aliviando os nossos sofrimentos
também”.
Sejamos diferentes, mas permaneçamo-nos
unidos, com caridade e humildade.
Fonte:
Confrade Renato Lima
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