quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

MISERICÓRDIA: DEUS AMA A FUNDO PERDIDO

“Sede misericordiosos, como também o vosso Pai é misericordioso”(Lc. 6,36)

Tornar presente o Pai como Amor e Misericórdia foi, para Jesus, o cerne de sua missão: toda a sua vida foi uma eloquente demonstração da misericórdia divina para com a humanidade.
Jesus,que encarna e torna visível no mundo a misericórdia do Pai, se faz também misericordioso. Anuncia aos pecadores que eles não estão excluídos do amor do Pai, mas que Ele os ama com infinita ternura.O Evangelho só aparece como Boa-Nova se compreendermos esta novidade introduzida por Jesus.
Ele, em sua presença misericordiosa, revela um Deus desprovido de dogmatismos, de controle e de poder. O Deus de Jesus não é um juiz com um catálogo de leis que tem necessidade de mandar, controlar, verificar; o seu Deus é o Deus da misericórdia, da bondade sem limites e da paciência para com todos.
Jesus propõe um modo de ser humano inseparável da misericórdia do Pai:
“Sede misericordiosos como o Pai é misericordioso” (Lc. 6,36)
Ser misericordioso “como” Deus constitui o mais elevado convite e a mensagem mais profunda que o ser humano recebe sobre como tratar a si mesmo e aos outros.
Deus, em sua misericórdia reconstrutora,  libera em nós as melhores possibilidades, riquezas escondidas, capacidades, intuições... e nos faz descobrir em nós, nossa verdade mais verdadeira de pessoas amadas, únicas, sagradas, responsáveis... É ele que “cava” no nosso coração o espaço amplo e profundo para nos comunicar a sua própria misericórdia.A força criativa do seu amor misericordioso põe em movimento os grandes dinamismos de nossa vida; debaixo do modo paralisado e petrificado de viver, existe uma possibilidade de vida nova nunca ativada.

A experiência de misericórdia gera em nós uma atitude correspondente de misericórdia. O Deus misericordioso cria em nós um coração novo, feito de acordo com o Seu, capaz de misericórdia (“bem-aventurados os misericordiosos porque alcançarão misericórdia”). É exatamente este o maior sinal da sua Misericórdia: ama-nos a ponto de enviar-nos ao mundo como instrumentos de Sua reconciliação, pondo em nosso coração um Amor que vai além da justiça.
misericórdia é não só o atributo primeiro de Deus, mas também a mais humana das virtudes. É aquela que melhor revela a natureza do Deus Pai e Mãe de infinita bondade. É a que revela igualmente o lado mais luminoso da natureza humana. Por isso é a que mais humaniza as relações entre as pessoas.
misericórdia presente em nós é modelada e alimentada pela Misericórdia divina, que se visibiliza no perdão, na compaixão, no consolo, na ternura, no cuidado...
Nossa atitude misericordiosa nos configura à imagem do Deus misericordioso. É onde somos mais semelhantes a Ele. A misericórdia como estilo-de-vida cristã nos descentra de nós mesmos e nos faz descer em direção ao outro, numa atitude de pura gratuidade. A vivência da misericórdia nos torna  realmente livres, e isso nos proporciona profunda alegria interior.

Uma misericórdia superabundante, generosa... é gesto gratuito e positivo de encontro, de acolhida, de cordialidade,que se torna hábito de vida: ser “presença misericordiosa”.
A espiritualidade da misericórdia contém em si a gratuidade do relacionamento, a dimensão desinteressada da doação. É a partir da misericórdia que a pessoa é capaz de amar os inimigos, de fazer o bem aos que a odeiam, de bendizer os que a amaldiçoam, de oferecer a outra face, de emprestar sem esperar recompensa, de perdoar sem limites...
misericórdia é humilde e não humilha, porque é discreta e silenciosa. Ser presença misericordiosa não significa pôr o outro de joelhos para que reconheça seus erros; ela nasce de um coração “educado” pela Misericórdia divina e se manifesta externamente com uma atitude mansa e condescendente.
Essa Misericórdia é uma força poderosa, não se rende diante do mal, porque é sempre capaz de redes-cobrir o bem ou de salvar a intenção do próximo, de abrir-lhe novamente a esperança...

Entrar no movimento da misericórdia humaniza e cristifica essencialmente a pessoa, porque a misericórdia constitui“a estrutura fundamental do humano e do cristão”.
Fundamentalmente, a misericórdia significa assumir como própria a miséria do outro, inicialmente como sentimento que comove, mas que, logo em seguida, leva à ação. Ela brota das “entranhas” e se dirige instintivamente ao próximo na forma de proximidade, acolhida e compaixão.
Misericórdia é exatamente:“ter coração”para o outro, dando preferência aos pequenos e pobres.
misericórdia é a caridade que “toma mãos e pés”, ou seja, o amor que se expressa em uma ação decidida e generosa, capaz de transformar e libertar.
Em hebraico, a palavra “misericórdia” – “rahamim”, significa ter entranhas como uma mãe.
É comover-se diante da situação de fragilidade do outro; é sentir-se intimamente afetado e, por isso, com a disposição de ser magnânimo, clemente e benevolente para com ele.
misericórdia recebida e experimentada é a base da atitude compassiva, não como ato ocasional mas como estilo de vida evangélico. Torna-se o fundamento e a perene inspiração de uma existência de par-tilha e solidariedade.

Ser presença misericordiosa é um “modo de proceder”, um “estilo de vida” que não está ligado a uma transgressão; é muito mais um estilo de bondade, compreensão, magnanimidade, estilo de quem não se fixa no que o outro merece nem se escandaliza com sua miséria.
"Devemos ser presença misericordiosa como pecadores, não como justos”.

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misericórdia é fundamentalmente uma mensagem de estima e confiança no outro, crer na sua amabilidade. Por isso, a presença misericordiosa é força que provoca no outro a re-descoberta de sua própria identidade (uma pessoa amada e acolhida pelo Deus misericordioso) e ao mesmo tempo desata nele as ricas possibilidades de vida que estavam latentes.
Quem é misericordioso está convencido de que o irmão é melhor que aquilo que aparenta ser.
misericórdia é expansiva, ela abre um novo futuro e ativa os melhores recursos no interior de cada um. Ela não se limita ao erro, mas impulsiona o outro a ir além de si mesmo.
Onde não há misericórdia, não há sequer esperança para o ser humano.

Textos bíblicos:   Lc 6,27-38

Na oração:- Pedir maior consciência do Amor Misericordioso do Pai por você; que você possa deixar-se surpreender pelo Amor criativo do Deus Pai/Mãe... e participar em sua festa de reconciliação.
- Ao mesmo tempo, pedir um coração “desarmado”, pronto a recriar (perdoar é recriar, é dar oportunidade para alguém viver de novo).
Entrar no “fluxo” da misericórdia divina: ser canal por onde ela circula para chegar até os outros.

*Texto preparado pelo Pe. Adroaldo Palaoro, SJ (Companhia de Jesus), e que se baseia no Evangelho para o 7º Domingo do Tempo Comum do Ano C da Liturgia da Igreja, que vai cair no dia 24 de fevereiro.

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